CNJ pune com aposentadoria juiz de São Paulo por acusado de assédio sexual

Decisão do conselho foi unânime; defesa nega acusações



O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) puniu nesta terça-feira (23), por unanimidade, o juiz Marcos Scalercio, do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2), de São Paulo, a uma pena de aposentadoria compulsória por acusações de assédio sexual.


“Pela gravidade dos fatos praticados, considerando que se registrou padrão usual de conduta nos três casos examinados, e à luz de precedentes, entendo viável aplicação de pena de aposentadoria compulsória com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço”, disse a relatora do caso, conselheira Salise Sanchotene, ao encerrar seu voto.


O CNJ analisou um processo administrativo disciplinar aberto contra Scalercio que envolveu acusações de assédio sexual por três mulheres, que teriam ocorrido 2014 e 2020.


O processo tem acusações feitas por três mulheres: uma ex-aluna, uma funcionária do TRT-2 e uma advogada.


A aposentadoria compulsória é a pena disciplinar mais grave aplicada a juízes. Com a punição, o ex-magistrado recebe aposentadoria de acordo com o tempo de serviço na carreira.


A presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, disse que o caso julgado é “paradigmático” por refletir “uma sociedade estruturalmente machista, que invisibiliza as mulheres e, mais do que isso, as silencia pelos constrangimentos que a elas impõe”.


“Lamento que nossa legislação assegure vencimentos, ou subsídios, proporcionais ao tempo de serviço”, disse Weber. “O que mais dói nesse processo é que as condutas eram adotadas e se evocava a condição de magistrado: ‘eu posso porque sou juiz’”.


Ao fazer a sustentação oral durante o julgamento, o advogado Leandro Raca, responsável pela defesa de Scalercio, negou as acusações. Ele descartou, também, que houvesse relação hierárquica entre o então juiz e as mulheres que o acusaram.


“Não há indicação de reiteração de condutas. Todas as testemunhas arroladas pela acusação são testemunhas de ouvir dizer. Todos os aspectos verificáveis dos relatos foram desmentidos”, afirmou.


O advogado pediu que, em caso de condenação, a pena fosse de advertência ou censura.


Em setembro de 2022, o CNJ havia decidido afastar o juiz Scalercio do TRT e abrir o processo administrativo que foi julgado nesta terça-feira.


Denúncias


A organização Me Too Brasil e o Projeto Justiceiras receberam 96 relatos de assédio e violência sexual contra o magistrado. Do total, 26 denúncias foram encaminhadas ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e ao CNJ.


De acordo com o Me Too Brasil, há seis relatos de estupro, sendo que, até o momento, duas das vítimas foram ouvidas pelo Ministério Público de São Paulo e os casos de outras duas foram encaminhados ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).


Um dos casos não foi ouvido pela Justiça e uma vítima decidiu por não formalizar a denúncia.




Por CNN Brasil

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