Nova diretoria da PF planeja criar ferramentas para combater fraudes e crimes sexuais na internet

Diretoria de Repressão aos Crimes Cibernéticos, que antes era uma divisão da PF, foi criada para ampliar combate delitos nas redes



A Polícia Federal se mostra convencida de que investir em tecnologia e novas ferramentas de investigação dará resultados no combate aos crimes cibernéticos, que estão cada vez mais engenhosos.


Em entrevista à CNN, o diretor de Repressão aos Crimes Cibernéticos da PF, delegado Otávio Margonari Russo, e a coordenadora-geral de combate ao crime cibernético, Cassiana Saad de Carvalho, explicaram que existem projetos em andamento para criar novas tecnologias no combate a crimes sexuais infantis e fraudes bancárias.


A diretoria foi criada este ano, na nova gestão da PF. Antes, era uma divisão e não tinha toda a estrutura e aporte de agora. “Isso é um recado de que essa gestão tem como prioridade, de fato, o combate a esse tipo de crime”, diz Russo.


São três coordenações dentro da diretoria: crimes de altas tecnologias, como ataques a órgãos públicos; fraudes bancárias; e, terceira, os crimes sexuais contra crianças e adolescentes na internet.


E há ainda uma divisão, uma espécie de delegacia, que atualmente tem sete investigações específicas em andamento.


Crimes sexuais online


Em relação a crimes sexuais online contra crianças e adolescentes, uma ferramenta tecnológica – com nome mantido sob sigilo – deve ser ampliada, segundo os investigadores.


“A gente já faz e quer muito desenvolver ferramentas de investigação. A gente tem uma ferramenta muito importante no combate à pornografia infantil, extremamente moderna, que vários países querem que a gente exporte para eles. Ela é tão boa que tem muita gente interessada”, explica o diretor.


A ferramenta foi desenvolvida dentro da PF, por profissionais próprios, a partir de 2018. Agora, o objetivo é ampliar a ferramenta. “Não só aprimorar as que a gente tem, mas criar outras”, reforça Russo.


A delegada Cassiana Saad Carvalho explica como funciona: “Desde o lançamento, a ferramenta vem auxiliando no resultado operacional. É um canhão para trabalhar. Ela tem uma base de dados muito diferenciada. Com base no que ela é alimentada, você vai entrar na casa do investigado, alvo de busca e apreensão, sabendo quem é o suspeito. Isso faz toda a diferença”.


“Antes, a gente chegava no endereço que moravam várias pessoas. Era difícil pedir uma prisão preventiva, porque não sabe se era o filho, a filha, o pai, mãe ou avô o alvo. Agora, a ferramenta traz a informação com mais dados, de um jeito que chega na pessoa. Isso demonstra que aqui a gente desenvolve tecnologias de nível mundial”, comentou o diretor à CNN.


Outro projeto, o Tentáculos, é exclusivo da Polícia Federal, segundo os delegados. É uma base alimentada por várias notícias de crime eletrônicas, de vários bancos, com vários elementos cibernéticos. Ela segue a mesma filosofia, com cruzamento de dados e foco no que interessa aos policiais.


Segundo eles, o modelo é um sucesso e até já ajudou a encontrar fraudes no auxílio emergencial, disponibilizado pelo governo a brasileiros durante a pandemia.


“Durante o repasse do auxílio, na pandemia, a gente teve que criar emergencialmente uma estratégia, e deu muito fruto”, relembra a delegada Cassiana.


Cooperação internacional


“É uma diretoria com vocação internacional muito forte. Pela natureza dos crimes, que são em sua maioria transnacionais, a Deciber vai não só trabalhar com os estados do Brasil, mas também ver crimes que começam ou terminam no exterior. Vai ter muita cooperação internacional”, afirma o diretor Russo.


Outra cooperação é a nacional. Pela primeira vez, cada uma das 27 superintendências da PF no Brasil tem uma delegacia especializada em crimes cibernéticos, que trabalhará em conjunto com a diretoria, em Brasília.


“Essa cooperação é uma das prioridades. Vamos criar uma estratégia única de combate”, adiantou o delegado.


A delegada Cassiana Saad destaca a defesa dos países, a segurança nacional, como ponto importante. “O crime cibernético hoje, no mundo, tem muita relação com a defesa dos países. Você tem hoje vários ataques nacionais. Um pano de fundo também relacionado à defesa. Então o combate ao crime cibernético no mundo é uma prioridade, já há alguns anos.”


“Depois da pandemia ainda, nem se fale. Todos os ataques tomaram proporções inimagináveis. Então um país que coloca esse combate como prioridade quer ser visto como um país sério pelos parceiros internacionais”, declara a delegada Cassiana.


Desde 2015 trabalhando na área, a investigadora mostra emoção ao falar do trabalho.


“Essa área, do combate ao abuso sexual infantil, quem trabalha com isso, tem a emoção de entrar num lugar e resgatar uma criança, prender um atacante sexual de uma criança. É muito difícil uma pessoa voltar a ser o que ela era antes.”



Por CNN Brasil


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