Policiais civis do Pará trabalham 20 horas por dia



Seis dias após apresentar números alarmantes relacionados a casos de homicídios no Estado do Pará, 1980 em apenas seis meses, a diretoria do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil (Sindpol) voltou a criticar a postura do Governo do Pará em relação à política de segurança pública. Agora, o sindicato acusa o Estado de perseguição e assédio moral. O limite teria sido a destituição do delegado sindical, o investigador Rui Guilherme Cruz Pimenta, do seu posto de trabalho no município de Soure, ilha do Marajó. Para o Sindpol, a medida estaria diretamente ligada às últimas ações do sindicato e à cobrança do investigador para o cumprimento da jornada de trabalho do policial civil, que não estaria sendo legalmente cumprida no interior do Estado. “A determinação de colocar nosso delegado sindical à disposição da Diretoria de Polícia do Interior (DPI) tem caráter, sim, de perseguição ao sindicato que não se cala frente aos absurdos que acontecem nesse Estado”, afirmou o presidente do Sindpol, Rubens Teixeira.

Há dois anos lotado no município de Soure, Rui Guilherme assumiu a função de diretor sindicato em maio deste ano. E a partir daí, a relação com o superintendente Regional dos Campos do Marajó, delegado Arilson Caetano, teria desandado. O desentendimento maior teria se dado na última quinta feira, quando houve uma reunião entre os dois. “Eu cobrei o cumprimento da lei para a jornada de trabalho e ele disse que não havia nada a fazer, que tudo estava certo do jeito que estava. Depois recebi a notícia que estava à disposição da DPI”, disse Rui, que também contesta as acusações da Polícia Civil de faltar e ofender o superintendente.

O Sindpol denuncia que na Superintêndencia de Soure os policiais civis estariam sendo submetidos a plantões de sete dias consecutivos de trabalho por igual período de folga, mas durante as escalas não haveria tempo para descanso. “O policial é obrigado a chegar sete horas da manhã e largar três horas da madrugada. Isso é praticamente morar na delegacia. Eu mesmo não dei conta desse regime porque não dava conta de ficar acordado”, contou o investigador. Para o Sindpol essa é uma realidade comum em todo o Estado. “Para o governo é muito cômoda essa situação porque um policial trabalha por dois, três. Isso é resultado da inércia do governo, a polícia não tem efetivo suficiente e fica explorando os poucos que têm, mas essa é uma situação absurda porque quem trabalha nesse regime de sete por sete, ao final do mês trabalhou 360 horas, extrapolando as 176 h/mês previstas na Constituição”, lembrou Rubens.

Ele garante que desde 2003 há uma determinação judicial que obriga o Estado a cumprir a jornada de 48 horas de folga para cada 24 horas de trabalho ou oito horas diárias com intervalo de duas horas para almoço. “O Governo insiste em descumprir a lei e quando um membro nosso cobra ainda age dessa forma, com perseguição. Nós vamos cobrar uma reparação a esse caso. Não vamos aceitar essa atitude do Governo”, destacou o presidente do Sindpol.

Polícia Civil justifica transferência de Soure

A assessoria de imprensa da Polícia Civil disse, em nota, que o policial civil citado “foi transferido de Soure por insubordinação, descumprimento de ordem, por falta de serviço e por fazer ofensas morais ao superintendente da Polícia Civil em Soure. Por isso foi colocado à disposição da Diretoria de Polícia do Interior por solicitação do superintendente regional dos Campos do Marajó”. De acordo, com a assessoria, o superintendente de Soure teria colocado o cargo à disposição da Diretoria com motivos explicados à Corregedoria da Polícia Civil que deverá apurar os fatos. “Não existe qualquer descumprimento de lei quanto à carga horária muito menos assédio moral ou perseguição ao policial civil”, garante a PC, em nota. Sobre a carência no efetivo, a assessoria diz que está em andamento concurso público para 670 delegados, escrivães e investigadores.

Diário do Pará / Amigos da Caserna

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