Venda de acessórios militares vira 'negócio' lucrativo na Colômbia

 

Depois de quase meio século de conflito armado na Colômbia, avistar homens fardados e armados é corriqueiro em Bogotá.

Apesar de as disputas entre governo e Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) terem arrefecido nos últimos anos, impressiona a quantidade de lojas dedicadas a produtos militares na capital do país. E teme-se que esse comércio alimente tanto oficiais autorizados como guerrilheiros e paramilitares.

Só Bogotá tem mais de 400 lojas que vendem roupas e acessórios militares, concentradas no centro da cidade, bem próximo à Casa de Nariño (palácio do governo).

Nas vitrines e calçadas, há bonecos vestidos de soldados, manequins infantis com roupa camuflada e também roupas de guarda de trânsito, camisetas, coturnos, boinas, kits de sobrevivência na selva, capacetes e até distintivos militares.

A BBC Brasil visitou algumas lojas para saber por que existe tanta oferta. Segundo lojistas, o público-alvo são os militares e policiais - a estimativa é de que o país tenha entre 450 mil e 500 mil militares, a segunda maior força da América do Sul, atrás apenas do Brasil.


O centro comercial tem certa tensão. Ao serem fotografados, os lojistas perguntam por que e para que as fotos estão sendo tiradas. Alguns permitem, outros não. Em geral, os vendedores das lojas preferem não dar entrevistas. E só aceitam conversas informais.

Os comerciantes dizem que as lojas são bastante frequentadas por oficiais do Exército, mas também por bombeiros, policiais e funcionários de empresas de segurança privada.

"A maior parte dos clientes são policiais e militares, que vêm para repor suas roupas. Compram coturnos, meias e camisetas, essas coisas que usam muito", conta Lucília Herrera, vendedora.

Venda proibida

A venda de peças de uso exclusivo do Exército, como uniformes camuflados com desenho quadriculado — a estampa oficial da corporação —, é proibida para pessoas que não sejam militares ou policiais.

A BBC Brasil fez o teste e, sem se identificar, procurou por um chapéu camuflado quadriculado, de uso restrito ao Exército. A maioria das lojas recusou-se a vendê-lo.

"A gente não pode vender gorros, fardas, capacetes, e qualquer outro acessório com estampa quadriculada verde. Só para o Exército", explica uma vendedora.

Numa outra loja, a dona do estabelecimento avisa: "Só vendemos para oficiais que apresentem a documentação."

Mesmo assim, com um pouco de conversa informal, a proprietária dá a dica. "Aqui nós somos sérios, e só vendemos dentro da lei. Mas umas cinco lojas abaixo, você consegue comprar."

E, de fato, algumas lojas depois, a BBC Brasil verificou ser possível comprar. Diante da demonstração de interesse por um chapéu semelhante ao utilizado pela guerrilheira holandesa Tanja, a vendedora se prontificou a vendê-lo sem qualquer pedido de documento, por 35 mil pesos (R$ 40), fazendo apenas um alerta para que, caso decidíssemos comprá-lo, não o usássemos ali e guardássemos bem a sacola escondida, ou a polícia poderia apreender a mercadoria.

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