DENÚNCIA "O GLOBO" SOBRE MILÍCIAS: Em pelo menos 11 Estados brasileiros, há ações de grupos paramilitares armados e chefiados por agentes públicos da área de segurança.

Rio de Janeiro. A população do Rio de Janeiro não é a única refém das milícias. Em pelo menos 11 Estados brasileiros, há ações de grupos paramilitares armados e chefiados por agentes públicos da área de segurança, de acordo com levantamento feito pelo "O Globo", nas duas últimas semanas, com base em dados fornecidos por Ministérios Públicos e Ouvidorias de Polícia.

As milícias estão organizadas na Paraíba, no Espírito Santo, no Ceará, em Mato Grosso do Sul, no Pará, em Pernambuco, em Alagoas, no Piauí, em Minas Gerais e em São Paulo, além da Bahia e do Rio.

Os grupos agem com características diferentes em cada Estado. Mas o discurso para controlar as comunidades é parecido: eles extorquem dinheiro de moradores e comerciantes para oferecer segurança privada ilegal. Em troca da proteção, os milicianos prometem expulsar ou matar traficantes.

Em Minas Gerais, uma coincidência macabra une os dois municípios com maiores índices de homicídio para cada grupo de 100 mil habitantes nos primeiros nove meses deste ano. Em Governador Valadares (30,87 mortes/100 mil pessoas) e em Betim (29,07 mortes/100 mil pessoas), grupos de policiais civis e militares são investigados por suspeita de serem sócios de traficantes, executarem assaltantes e venderem segurança privada ao comércio. As milícias de Minas não se propõem a ocupar o lugar do tráfico: preferem ser parceiros.

Em Valadares, o Ministério Público de Minas identificou seis policiais que teriam se organizado para apoiar e dividir lucros com traficantes de drogas. Os policiais são investigados pela Corregedoria da Polícia Militar e são acusados de execução de suposto criminosos.

Em Betim, militares são acusados de achacar comerciantes em troca de segurança. O grupo é investigado pela Corregedoria da PM há quatro anos, mas ainda não foi desmobilizado.

Jovens entre 16 e 21 anos suspeitos de serem autores de assaltos em açougues e casas lotéricas do município da região metropolitana de Belo Horizonte estariam sendo executados por integrantes do grupo. Os próprios investigadores de homicídios na cidade temem a atuação do grupo.

Justiça

Grupos estariam por trás das mortes de magistrados

Rio de Janeiro. Corregedora Nacional de Justia, a ministra Eliana Calmon conta que as milícias estão por trás da maioria dos casos de violência contra magistrados brasileiros. Por isso, ela iniciou uma força-tarefa nos 27 Estados para identificar e punir as ações de grupos paramilitares. "As milícias se fortalecem com a impunidade", diz.

A ministra iniciou um mapeamento para tentar acelerar o andamento de processos envolvendo policiais militares e civis. Segundo ela, boa parte dos crimes envolvendo milicianos está parada na Justiça. "Temos reclamações de processos envolvendo policiais que estão parados com o objetivo de serem prescritos", diz.
Eliana Calmon alerta para casos ocorridos na Bahia, em Goiás e no Ceará. Nesse último Estado, pelo menos 30 policiais são réus acusados de venderem segurança privada ilegal: "Queremos acabar com esse derramamento de sangue. Uma das milícias do Ceará é comandada por um major da polícia", desabafa a ministra.

A promotora de Justiça, Joseana França, membro-auxiliar da Corregedoria do Conselho Nacional do Ministério Público, faz um alerta: "Em um primeiro momento, os milicianos dão proteção a moradores e comerciantes angariando simpatia. Eles matam ou expulsam os bandidos das comunidades com aquele discurso de levar a tranquilidade. Os legisladores precisam rever essa discussão".

Fonte: Blog Debate Policial

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