ARTIGO: PM tem que vestir a camisa.

De cinco anos para cá, a segurança pública do Rio de Janeiro tem sobressaído no país por seus feitos. Entre os quais, a retomada de territórios cariocas ocupados por traficantes com armas de guerra, a criação das unidades de policia pacificadora e a superação de crises dentro do próprio sistema. A última, causada pelo assassinato da juíza Patrícia Acioli por policiais.

Na semana passada veio à tona que a juíza, famosa por condenar policiais delinquentes, teria sido executada por ordem do tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira: ex-comandante de dois batalhões. E, supostamente, também de uma rede de corrupção e banditismo fardado.

Após ter perdido o sono por uns dias, o secretário José Mariano Beltrame não fez por menos: rapidamente, substituiu toda a cúpula da PM. Não havia tempo a perder. Precisava zerar as chances de contágio montando uma outra equipe, impondo novas regras; mais rigorosas e objetivas. Como as de investigação de sinais de enriquecimento ilícito.

Há quem diga com todas as letras: "odeio policiais". Curiosamente, esse ódio nem sempre é dirigido aos "maus", mas aos que desempenham papel de "mocinhos". A origem disso pode estar em alguma projeção ideológica ou repressão sofrida. Quem sabe?... Sou a favor dos policiais que combatem corruptos, corruptores e bandidos infiltrados no próprio sistema.

Dito isto, vou mais longe: há momentos que os admiro. Por quê? Porque, quando levada a sério, trata-se de profissão ingrata. Até certo ponto, altruísta. A coronel Kátia Boaventura, escolhida para chefe de gabinete do novo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro da Costa Filho, não nega. Deu até um recado para a corporação: todos têm de vestir a camisa com orgulho.

Já a população não pode esquecer (para cobrar) qual é a missão da polícia: dar segurança, proteger o ir e vir das pessoas de bem; fazer valer as leis. Defender até quem pede socorro dentro de casa. A sociedade deveria apoiar e incentivar a formação de novas gerações de bons policiais. Ou será que eles nascem de chocadeiras?

A profissão exige talento, vocação e muito treinamento. Disciplina. Sacrifícios, coragem... E não é carreira para ficar rico. Dificilmente os rendimentos irão além do necessário para manter a qualidade de vida e os estudos; atualizar-se tecnicamente para o combate ao crime e para assumir comandos. A recompensa? Talvez uma certa sensação de poder.

Ninguém é obrigado a ser polícia. Nem herói. Ser PM é uma escolha.

Ateneia Feijó é jornalista

Fonte: O Globo/País

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