A segurança e a força, por Demétrio Magnoli



“Em todos os tempos os reis, e as pessoas dotadas de autoridade soberana, por causa de sua independência, vivem em constante rivalidade, e na situação e atitude dos gladiadores, com as armas assestadas, cada um de olhos fixos no outro”. O intercâmbio assimétrico de projéteis entre Israel e o Hamas evidencia que a definição clássica das relações internacionais, exposta por Thomas Hobbes em 1651, não perdeu sua validade.

A insegurança é o motor das operações militares israelenses na Faixa de Gaza. O Estado judeu, contudo, esqueceu-se há mais de uma década daquilo que, antes, sabia: a maximização do uso da força não conduz, necessariamente, à maximização da segurança.

Israel é filho dos pogroms, dos campos de extermínio, de Auschwitz. Desde o início, o Estado judeu confiou na força: a “nação em armas” da guerra de 1948 construiu as forças armadas letais da guerra de 1967 e, em seguida, um poderoso dispositivo de dissuasão nuclear.

Entretanto, os dirigentes israelenses não perderam de vista o objetivo principal, de inserir seu Estado na ordem regional. A cooperação estratégica com a Turquia, os tratados de paz com o Egito e a Jordânia, concluídos às custas de uma concessão territorial, e os Acordos de Oslo, de 1993, representaram a busca da segurança por meio da política. Isso, porém, ficou no passado.

Desde a falência do “processo de paz”, intoxicados pela eficácia aparente das ações militares, os israelenses debilitam as fundações de segurança de seu próprio Estado.

O “assassinato seletivo” de Ahmed Jabari, o chefe militar do Hamas, evento deflagrador da crise em curso, reflete a incapacidade israelense de diagnosticar o fracasso de sua estratégia de desengajamento unilateral, que tomou o lugar da busca pela paz, e de eliminação do Hamas do tabuleiro diplomático.

O cenário atual do Oriente Médio não se parece com o de quatro anos atrás, quando Israel promoveu uma massiva operação de invasão de Gaza, mas não alcançou o objetivo de destruir politicamente o Hamas.

Sob intensa pressão da opinião pública doméstica, a Turquia considera a hipótese extrema de ruptura de relações com o Estado judeu.

Leia a íntegra em A segurança e a força



Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em geografia humana pela USP

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