Apesar do ano de 2014 estar sendo marcado pelo escândalo de corrupção na Petrobras, o Brasil melhorou três posições no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) da Transparência Internacional, ocupando a 69ª colocação entre 175 países, segundo estudo divulgado nesta quarta-feira. Mas a organização não considera que o Brasil avançou, já que voltou a ocupar a mesma posição que já tinha em 2012.
"Se compararmos os dados atuais do Brasil com os registrados há três anos, vemos que o país não se move no ranking. É uma tristeza, é igual ao passado", disse à BBC Brasil Alejandro Salas, diretor para as Américas da Transparência Internacional, com sede em Berlim.
"O Brasil fez várias coisas importantes para lutar contra a corrupção nos últimos anos, como as leis de Acesso à Informação Pública, da Ficha Limpa e para punir empresas que cometem corrupção", ressalta Salas.
"Mas escândalos como o do Mensalão, da construção de estádios para a Copa do Mundo e da Petrobras nos lembram que a corrupção no Brasil é um problema estrutural", diz ele.
Os dados coletados para construir o Índice de Percepção da Corrupção se referem, globalmente, aos últimos 24 meses.
No caso da Brasil, a grande maioria das informações utilizadas no estudo cobre o período entre agosto de 2013 e agosto deste ano. Algumas englobam dados também de 2012. Ou seja, não foram considerados os principais desdobramentos do escândalo da Petrobras, surgidos a partir de outubro.
"É possível que no próximo ano o Brasil caia no ranking em razão do escândalo da Petrobras", prevê Salas.
O estudo da Transparência Internacional, em sua 20ª edição, é baseado em dados de instituições como o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial, além de instituto de pesquisas, que medem a percepção de empresários, investidores e população em relação à corrupção.
Média mundial
Neste ano, o Brasil obteve a nota 43, em uma escala que vai de 0 (setor público visto como extremamente corrupto) a 100 (extremamente íntegro), a mesma pontuação obtida em 2012. No ano passado, o país havia totalizado 42 pontos.
A pontuação do Brasil se situa exatamente na média mundial, de acordo com o estudo, de 43 pontos. Nas Américas como um todo, a média é 45.
Mais de dois terços dos 175 países que integram o índice obtiveram uma nota inferior a 50.
"O Brasil está na metade. Não é um dos piores nem dos melhores. Mas não é um resultado bom para o país, que tem feito inúmeros esforços para ser um líder econômico e político", disse Salas à BBC Brasil.
"O Brasil quer ser um líder mundial, então tem que mostrar o exemplo. Ele ainda está muito distante dos países desenvolvidos nesse índice", ressalta o diretor da Transparência Internacional.
Empatados com o Brasil, com a mesma pontuação e lugar no ranking, estão países como a Itália, a Grécia e a Bulgária.
Para Salas, o escândalo da Petrobras pode ser positivo para o Brasil se forem tomadas "medidas fortes" de combate à corrupção.
"Se a presidente Dilma Roussef aproveitar esse momento para fazer mudanças, poderá ser algo positivo", diz ele.
"Se pessoas poderosas e outros culpados nesse escândalo forem presos, o Brasil poderá projetar uma boa imagem", afirma Salas.
"Se houver também reforma política e melhorias no sistema de compras públicas, pode ser um momento histórico para o Brasil. Mas se nada mudar, será um exemplo negativo", diz ele.
A Dinamarca é a primeira colocada no ranking, com 92 pontos, um a mais em relação ao estudo anterior, onde também já havia ficado em primeiro lugar.
A China e a Turquia estão entre os países que mais perderam posições no ranking deste ano.
A China, que adotou nos últimos anos medidas de combate à corrupção, como a proibição de dar presentes de alto luxo a funcionários públicos, caiu 20 posições no ranking, passando a ocupar o 100° lugar, com 36 pontos.
Entre os países dos BRICS, o Brasil está praticamente empatado com a África do Sul (duas posições acima do Brasil no ranking) e bem à frente da China, Índia e Rússia