Polícia Federal pagou R$ 1,9 milhão para treinar piloto


A Polícia Federal pagou R$ 1,9 milhão a uma empresa israelense pelo treinamento de cada piloto dos veículos aéreos não tripulados (Vants), os chamados aviões espiões, que já operam na fronteira do país. A constatação é do Tribunal de Contas da União (TCU), que considerou o valor "desproporcional". Em decisão sigilosa, à qual O GLOBO teve acesso, o TCU cobra explicações à cúpula da instituição, incluindo o ex-diretor-geral Luiz Fernando Corrêa e a ex-diretora de Inteligência Mara Toledo de Santana.

A compra dos Vants foi uma das principais propostas apresentadas pela presidente Dilma Rousseff na campanha eleitoral de 2010. A ideia foi apresentada ao governo por Corrêa e encampada pela presidente. O uso dos Vants era a resposta do governo às críticas, inclusive do candidato do PSDB José Serra, sobre a falta de fiscalização das fronteiras. Setores militares veem com desconfiança o uso dos aviões pela polícia.

Cursos tiveram custo total de R$ 24,6 milhões

Conforme auditoria do tribunal sobre o contrato com a Israel Aerospace Industries (IAI), que forneceu os Vants e a capacitação aos policiais, os cursos teórico e prático para 13 operadores do sistema custaram US$ 13,43 milhões (R$ 24,6 milhões). A cifra representa quase a metade dos US$ 27,9 milhões (R$ 51,23 milhões) empregados na compra das duas aeronaves já no país. Uma delas monitora a Tríplice Fronteira.

Além de a verba ser considerada alta pelo TCU, os auditores apuraram indícios de que ela foi mal aplicada. Entre os pilotos treinados a peso de ouro, havia servidor prestes a se aposentar e sem compromisso de prestar os serviços a médio ou longo prazo.

Para o tribunal, falta "justificativa válida" para os valores praticados no contrato, firmado sem licitação. A PF apresentou declaração do governo de Israel de que os preços cobrados do Brasil são "justos", além de outros contratos da IAI, que serviram de referência. Porém, eles não se referem especificamente a treinamento, segundo os auditores.

Atual diretoria diz que só se manifesta nos autos

Aprovada em sessão secreta no fim de novembro, a decisão do TCU dá 15 dias para que os responsáveis pelo projeto se expliquem. Eles recorreram, pedindo mais prazo. Quase todos são da gestão anterior da PF, que trocou de comando no início de 2011. Questionada, por meio da assessoria de imprensa, a atual diretoria informou que só vai se manifestar nos autos, tendo em vista que o processo é sigiloso.

Ao todo, o sistema Vant previa investimentos de R$ 401,9 milhões até o fim de 2011. O Vant é visto com reservas dentro da própria Polícia Federal. Alguns delegados consideram que o avião espião e suas bases operacionais têm uma estrutura pesada demais e consumirão energia excessiva para resultados pontuais e ainda não comprovados.

Fonte: O GLOBO

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